O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou no domingo que novos equipamentos de defesa antiaérea e artilharia pesada comprados da Rússia estão a caminho da Venezuela. A medida provoca polêmica no país. Segundo análise do orçamento de 2012 feito pela oposição, Chávez cortará gastos em educação, saúde e moradia e aumentará em 65% o investimento militar.
"Que ninguém se atreva a vir para cá para nos aplicar a "fórmula líbia". Sairia muito caro (a qualquer país) meter-se com a Venezuela", afirmou Chávez em rede nacional, anunciando a chegada do armamento que "faz falta para a defesa do país".
Contudo, na opinião do cientista político venezuelano Alfredo Ramos Jiménez, juntamente com o aumento de 50% no soldo dos membros das Forças Armadas, a medida foi adotada porque a popularidade de Chávez é a mais baixa em relação aos períodos eleitorais anteriores nos quais ele disputou a reeleição.
Ramos afirma que investir em defesa externa em detrimento da segurança interna prejudica a aprovação do líder também entre os mais pobres - responsáveis pela maior base eleitoral de Chávez, graças aos programas sociais de seu governo. A Venezuela não publica dados de violência desde 2003, mas se estima que na capital do país, Caracas, a taxa de homicídio seja de 220 a cada 100 mil habitantes, mais alta que a de Ciudad Juárez, no México, considerada a localidade mais violenta do mundo.
Para Ramos, o presidente também investe em defesa "por causa de sua política de amedrontar a oposição; para dizer "olhe, eu tenho as armas, e muitas", indicando que ele não reconhecerá facilmente uma derrota (nas urnas)". Segundo o analista, o comércio de armamento com os russos serve ainda para que Chávez consiga o apoio de comandantes militares venezuelanos que se beneficiariam com esses negócios. Ramos afirma ainda que, ao aumentar os soldos dos membros das Forças Armadas, Chávez ainda estimula uma disputa entre civis e militares na Venezuela. O Partido Comunista do país, por exemplo, exigiu ontem que os mesmos 50% de aumento sejam repassados ao salário mínimo e às "diversas categorias" de trabalhadores.
Nos últimos cinco anos, Caracas comprou quase US$ 11 bilhões em equipamento bélico. Em agosto, foi anunciado um crédito de US$ 4 bilhões para a compra de armas russas pelo governo de Caracas. O deputado opositor Julio Borges afirmou ontem à imprensa venezuelana que, em sua análise sobre o orçamento de 2012, detectou cortes de até 63% em moradias e desenvolvimento urbano, além do aumento de 65% do investimento nas Forças Armadas.