02/02/2016

Começou a participação do Brasil no projeto do caça Gripen NG


Primeiros engenheiros brasileiros já estão na Suécia para ajudar a desenvolver o futuro caça da FAB

A neve domina a paisagem, o termômetro marca temperaturas negativas e o Sol se põe pouco depois das três da tarde, após nascer quase às nove da manhã. Mas o casal Viviam Lawrence e Marcelo Takase está feliz por trocar o verão brasileiro pelo frio de Linköping, cidade sueca com pouco mais de cem mil habitantes. Os dois fazem parte do primeiro grupo de 46 profissionais enviados por empresas do Brasil para participarem do projeto Gripen NG. 

 “O trabalho de desenvolvimento do avião em conjunto com eles está se iniciando e esta etapa será essencial para a troca de conhecimento, visando à transferência da tecnologia”, diz Viviam. Mestre em engenharia mecânica pela USP, ela leva na bagagem a experiência de 13 anos na Embraer, onde trabalhou nos projetos do Super Tucano, do cargueiro KC-390 e dos jatos E-170/190, Phenom, Lineage e Legacy.

Já Marcelo, engenheiro da Embraer desde 1998, trabalha com sistemas ambientais e pela primeira vez vai enfrentar os desafios do desenvolvimento de um jato capaz de superar a velocidade do som. “Uma das diferenças é que no voo supersônico a temperatura externa do ar é mais elevada, o que dificulta a capacidade de resfriamento dos equipamentos e dos sistemas do avião que trocam calor com o ar externo”, conta.

Marcelo irá trabalhar ao lado do sueco Erik Israelsson, que não esconde a surpresa com a parceria. “O que vem à mente quando escuto a palavra Brasil é o Carnaval no Rio e florestas tropicais exuberantes. Então eu não estava realmente certo do que esperar, e estou agradecido por relatar que até agora a experiência tem sido positiva”, conta o engenheiro.

Erik explica que foram criados cursos rápidos para que os brasileiros comecem a trabalhar o mais rapidamente possível. Para ele, além de transmitir conhecimento, a presença de novos parceiros pode significar mudanças positivas no processo. “Eu acho que será muito útil trabalhar com pessoas não familiarizadas com o ‘jeito Saab’. Penso que isso nos fará refletir sobre como nós fazemos as coisas, e isso dá a esperança de mudanças positivas”, explica.

A troca de conhecimentos será mútua. É essa a aposta do engenheiro Per Randell, um dos coordenadores do processo de transferência de tecnologia. “Mudar o ambiente e a estrutura de como as coisas são feitas desafia a sua percepção e faz você aprender mais”, afirma. “Tanto suecos quanto brasileiros têm conhecimentos e experiências, mas talvez de plataformas e sistemas diferentes”, completa. 


Mais de 350 brasileiros na Suécia

Até 2022, mais de 350 brasileiros vão trabalhar com o projeto Gripen NG na Suécia. Além da Embraer, as empresas AEL, Akaer, Atech, Inbra e Mectron também vão enviar profissionais para a sede da Saab em Linköping. Eles vão atuar no desenvolvimento da aeronave, gerenciamento de projeto, desenvolvimento de simuladores e certificação, dentre outras atividades. Com status de parceiro no projeto Gripen NG, o Brasil terá papel de protagonista no desenvolvimento da versão para dois pilotos e nos primeiros estudos de viabilidade do Sea Gripen, modelo com adaptações necessárias para operar a bordo de porta-aviões. 

 
Para 2016 a expectativa da Saab é concluir a montagem do primeiro protótipo do Gripen NG. Daqui a três anos, em 2019, sairá da fábrica em Linköping a primeira aeronave para o Brasil. Das 36 unidades adquiridas, quinze serão produzidas no Brasil, com a última prevista para entrega em 2024. A Força Aérea da Suécia já encomendou outras 60 unidades do modelo. Ao todo, são 96 encomendas firmes, e a expectativa é aumentar os números com novas exportações.

Se ainda faltam alguns anos para o novo caça da FAB ser uma realidade nas bases aéreas brasileiras, no mundo da engenharia o projeto já é motivo de satisfação. “Sou neto de um integrante da FAB e também um pioneiro da Embraer, Raimundo Fernandes Dias, e tenho muito orgulho de poder, assim como ele, contribuir de alguma forma com a nossa Força Aérea”, finaliza o engenheiro Marcelo Takase.

Fonte: Agência Força Aérea

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