O Brasil completa em 2016 o projeto, já iniciado, de construção de uma força de ataque aéreo estratégico baseado na revitalização tecnológica do caça bombardeiro AMX, o A-1 da aeronáutica militar. O programa envolve 43 aeronaves e vai custar cerca de R$ 2 bilhões.
Segundo a Aeronáutica, do total já foram desembolsados R$ 840 milhões. O valor restante será pago entre os exercícios de 2012 e 2017. Depois do procedimento, os caças serão operacionais até o ano 2032.
A Embraer Defesa e Segurança (EDS) e a empresa israelente Elbit estão trabalhando com o primeiro lote de 10 jatos na fábrica da EDS em Gavião Peixoto, a 300 km de São Paulo. O primeiro AMX modernizado será entregue à FAB entre 2013 e 2014; o último, em 2017. Em algum momento nesse período, o Alto
Comando decidirá pela extensão da encomenda de forma a abranger toda a frota de 53 unidades. Enquanto isso, os 10 bombardeiros de reserva permanecerão em operação na base de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e no Esquadrão Adelphi, da base de Santa Cruz, no Rio.
O A-1M, como será rebatizado o caça, terá capacidade para atingir, recebendo combustível em voo, qualquer alvo estratégico na América do Sul, no Caribe e em boa parte da África, além de permitir ações de cobertura no Atlântico Sul. De certa forma, os caças-bombardeiros da Força Aérea podem, agora mesmo, cumprir esse tipo de missão.
Em agosto de 2004, dois deles decolaram de Santa Maria, permaneceram cerca de 12 horas no ar, fizeram três reabastecimentos em voo e, depois de um giro de 7 mil quilômetros sem serem detectados, haviam “lançado” todas as bombas contra vários objetivos vitais – centrais de energia, grandes centros de comunicações, instalações militares e complexos industriais. Para essa operação, foi preciso criar sistemas específicos, como um reservatório para as rações alimentares e uma espécie de sanitário químico compacto.
O pequeno jato é subsônico, mas pode voar a 900 km/hora e a 100 metros, talvez menos, de altitude.
A versão modernizada será equipada com um sofisticado radar multimodo SCP-01, desenvolvido pela Mectron, de São José dos Campos, controlada pela Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), capaz de atuar nos modos ar-ar, ar-terra e ar-mar. Integrado a um computador de missão de combate, pode coordenar o emprego de 3,8 toneladas de armas – bombas inteligentes, mísseis de alcance além do horizonte, foguetes e, em outra vertente, acessórios para reconhecimento eletrônico. Os dois canhões de 30 mm originais serão mantidos.
O uso estratégico do AMX é um assunto delicado. Falando aos senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa, pouco antes de deixar o governo, o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, citou o programa de revitalização e seu “elevado e efetivo poder dissuasório”. Para o Comando da Aeronáutica, o poderoso A-1M terá a função de “permanecer pronto para atender às necessidades operacionais da FAB, com excelente raio de ação, sistema de reabastecimento em voo e a qualidade de transportar uma grande diversidade de armamentos”. A questão política não entra formalmente nas considerações oficiais do governo.
Compacto e ágil, de asas curtas, o AMX mede 13,5 metros. A envergadura é de 8.87 metros. O peso máximo não passa de 13 mil quilos.
O programa de atualização da tecnologia implica um novo painel, com três telas digitais coloridas – 121 polegadas para exibir informações. O piloto terá todos os dados projetados no capacete – com recursos de visão noturna – e o comando completo do caça num único instrumento, o manche. É possivel que o projeto venha a incluir uma película destinada a confundir radares e sensores de identificação.
O bombardeiro de precisão é resultado de um acordo binacional firmado entre o Brasil e a Itália em 1981. Foram produzidos para as forças dos dois paises aproximadamente 200 unidades. A Embraer assumiu a encomenda da FAB. O batismo de fogo do AMX só aconteceria na Guerra do Kosovo, em 1999. A aviação italiana cumpriu 252 missões de combate sobre a Sérvia, sem perda de nenhuma aeronave. Em 2011, três unidades da base de Trapani, na Sicilia, totalizaram 500 horas de voo na Líbia entre os meses de abril e outubro a serviço da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN.
No Brasil, em maio de 2011, o AMX serviu ao voo da tenente Carla Alexandre Borges, primeira mulher do País a comandar um jato de combate. Aos 28 anos, a oficial da FAB participa regularmente dos ensaios de bombardeio e apoio à tropa terrestre do Esquadrão Adelphi, no Rio de Janeiro.
Fonte: Roberto Godoy – O Estado de São Paulo