25/02/2012

Compra de caças não irá fazer parte do encontro entre Dilme e Obama

 

 

Vice-secretário diz que o Departamento de Estado vai ajudar companhias americanas e brasileiras a fazerem investimentos

Sábado, 25 de Fevereiro de 2012, 03h07

WASHINGTON - Cientes do impossível diálogo sobre livre comércio, os Estados Unidos envolveram o Brasil na sua "diplomacia de empregos" de forma singular. Washington vê hoje o Brasil como uma fonte de investimentos produtivos, como mercado em expansão para as suas exportações de manufaturas e como futuro provedor de petróleo e gás. Longe das mesas de negociações comerciais, pretendem estimular contratos de negócios e investimentos recíprocos com base no arcabouço de cooperação econômica estabelecido no ano passado.

"Vamos usar os instrumentos do Departamento de Estado, que são nossa embaixada e nossos consulados no Brasil, para ajudar as nossas companhias a venderem seus produtos no mercado brasileiro e para criar a atmosfera para o investimento nos EUA", afirmou o Thomas Nides, vice-secretário de Estado, em entrevista exclusiva.

A presidente Dilma Rousseff será recebida na Casa Branca no próximo dia 9 de abril nesse contexto de ansiedade dos EUA em gerar empregos domésticos por meio da maior conexão entre as duas economias. A base da relação econômica bilateral de longo prazo foi desenhada em março de 2011, em Brasília, quando Dilma e o presidente americano, Barack Obama, assinaram o memorando de cooperação econômica e o diálogo estratégico sobre energia. O desafio, agora, será desdobrar esses acordos em contratos no setor privado.

O Brasil tem sido tratado como um "aliado" por Washington, ciente das divergências em vários campos diplomáticos. Mas, curiosamente, ainda não é chamado por Washington como "parceiro", em sentido mais amplo, a exemplo da também emergente Índia e dos países da Parceira Transatlântica, a prioridade de sua política comercial.

Para Nides, o crescimento do comércio do investimento bilateral será crucial na relação Brasil-EUA. O País é o oitavo maior parceiro comercial dos EUA e gerador de um de seus raros superávits, de US$ 8,1 bilhões em 2011, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, as exportações de bens brasileiros ao mercado americano cresceram 33,6%, e as importações de produtos Made in América, 25,6%.

O déficit para o Brasil no comércio bilateral incomoda. Washington desconversa, valendo-se das cifras recordes das trocas e da corrente de comércio expressiva, de US$ 59,7 bilhões no ano passado.

O contrato para a venda de 36 caças Super Hornet, da Boeing, para a Força Aérea Brasileira, continua a ser um objetivo prioritário para os EUA. Mas ainda está guardada na gaveta da presidente Dilma.

O tema deverá ser excluído da agenda paralela da visita de Dilma a Barack Obama, segundo o embaixador dos EUA em Brasília, Thomas Shannon.

Investimentos. Nides mostrou-se entusiasmado com as oportunidades de investimentos brasileiros nos EUA, recentemente engrossadas com a construção de uma fábrica da Embraer na Flórida. Apesar da orientação da política fiscal de Obama de pressionar as multinacionais americanas a repatriar parte de seus investimentos no exterior, o vice-secretário de Estado acredita haver condições para um "equilíbrio" no caso brasileiro.

"Queremos criar uma atmosfera para sublinhar que o investimento brasileiro é bem-vindo nos EUA, seja ele no setor manufatureiro, imobiliário ou em outros setores", afirmou.

O turismo brasileiro nos EUA, entretanto, alimenta maior entusiasmo no Departamento de Estado. Esse fluxo tem sido determinante para a recuperação econômica da Flórida, o principal destino. Desde o ano passado, lembrou Nides, o governo americano tomou uma série de medidas para facilitar e acelerar a emissão de vistos.

Mas a isenção desse documento não está nos seus planos. Cada visto custa US$ 100, o que significou uma receita própria de, pelo menos US$ 8,6 milhões para o Departamento de Estado. "Não estamos fazendo dinheiro com isso", afirmou.

Subsídios ao algodão. Embora a seara comercial tenha sido limpa da controvérsia sobre a tarifa adicional ao etanol brasileiro e os cortes de subsídios agrícolas pelos EUA sejam inevitáveis por razões fiscais, novos ruídos podem surgir em torno do contencioso sobre as subvenções americanas ao algodão. Mas a nenhum dos lados interessa arruinar a visita presidencial com tal atrito.

"A prosperidade dos nossos países não é dada pelo poderio militar, mas pela situação econômica. O Brasil sabe muito bem disso. Sua economia melhorou dramaticamente nos últimos anos, e seu prestígio no mundo aumentou, o que torna o País um caso a ser estudado por nós", afirmou Nides. / D.C.M.

Fonte: Estadão

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