O programa de desenvolvimento e
produção do novo cargueiro militar KC-390 já criou cerca de mil
oportunidades de trabalho dentro da Embraer, entre novos contratados e
funcionários que foram remanejados de outros programas, diz o presidente
da Embraer Defesa e Segurança, Luiz Carlos Aguiar. Mas para os
fornecedores locais, as oportunidades têm sido pequenas.
"O KC-390 é um projeto mobilizador de
recursos. No pico do desenvolvimento, em meados de 2013, acreditamos que
7,8 mil pessoas venham a fazer parte desse programa no Brasil",
afirmou.
Além da geração de novas tecnologias e
formação de recursos humanos especializados, Aguiar destaca que a
aeronave tem potencial de US$ 18,7 bilhões em exportações nos próximos
20 anos, o que representará a geração de um saldo líquido da balança
comercial da ordem de US$ 9,4 bilhões.
"Nas fases de produção e desenvolvimento o
KC-390 deverá gerar um total de 3,4 mil empregos diretos e 17 mil
indiretos, algo em torno de R$ 6,8 bilhões", disse o executivo.
Aguiar admite, no entanto, que apesar de
existir um esforço da Embraer e do governo para o adensamento da cadeia
produtiva, a participação da indústria nacional no programa do KC-390 se
dará de forma mais efetiva na fase de produção. "Tem muito pouco dessa
cadeia conosco na fase de desenvolvimento. Quase nada é feito no
Brasil", afirmou.
A Embraer informou que oito empresas
brasileiras ou com operações no Brasil estão envolvidas hoje no
desenvolvimento do cargueiro, como a AEL Sistemas, controlada pelo grupo
israelense Elbit; a Eleb, uma empresa da Embraer; LH Collus e Aerotron.
Na área de engenharia foram contratadas as empresas Aernnova e Alestis,
de origem espanhola; a Sobraer, do grupo belga Sonaca; e a Akaer,
criada por ex engenheiros da Embraer.
No programa de desenvolvimento do caça
AMX, considerado uma das bases mais importantes para o desenvolvimento
dos jatos que levaram a Embraer a liderança mundial no segmento de
aviação regional, segundo o Valor apurou, houve um envolvimento mais
amplo da indústria nacional em todos os sistemas críticos do produto.
"No caso do KC-390 o envolvimento mais pesado se dará na área de
aeroestruturas", comentou uma fonte.
Fontes do setor comentam que um
envolvimento maior da cadeia nacional no desenvolvimento do KC-390 era a
grande oportunidade que as empresas teriam para evoluir e reduzir a
dependência da Embraer, capacitando-as para se tornarem fornecedoras de
nível global.
Na fase de produção do KC-390, de acordo
com as fontes consultadas, a cadeia continuará fornecendo peças usinadas
e serviços, atividades consideradas de baixo valor agregado. "Até o
projeto do ferramental do KC está sendo feito fora do país. Para a
indústria nacional só resta cortar ferro e metal", afirmou uma das
fontes ouvidas pelo Valor.
Para o gerente do Centro para a
Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi), Agliberto
Chagas, o grande problema do baixo índice de participação da indústria
nacional na fase de desenvolvimento do KC-390, que envolve maior valor
agregado, é que as empresas não tem capacidade financeira para suportar o
risco de desenvolvimento do programa, devido às dificuldades para
apresentar garantias para conseguir um financiamento.
"Falta acesso a capital para investimento
competitivo com garantia e fundo de aval". O BNDES, segundo ele, exige,
além das garantias reais, o balanço contábil auditado. O banco chegou a
disponibilizar um crédito de R$ 200 milhões para as empresas da cadeia,
mas como existe a dificuldade das garantias, não houve tomador e o
prazo para solicitar os recursos se encerra em março de 2013.
O chefe do Departamento de Exportação do
BNDES, Márcio Migon, disse que o banco tem se esforçado para ajudar as
empresas da cadeia, mas que o setor também precisa ser mais pró-ativo e
empreendedor.
A especialista em projetos na área
aeronáutica da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),
Cynthia Mattos, disse que o governo vem trabalhando em algumas medidas
que deverão aumentar a competitividade da cadeia, tendo em vista a
necessidade de se fortalecer o conteúdo de engenharia e de
desenvolvimento básico do setor.
"No longo prazo todos esses programas
mobilizadores e de aumento da capacidade empresarial e tecnológica da
cadeia vão permitir que outras oportunidades surjam e não sejam perdidas
como aconteceu no KC-390", comentou.
O presidente da Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Walter Bartels, disse que instrumentos
como o regime especial de tributação para a indústria aeronáutica
(Retaero), embora se proponha a reduzir a carga fiscal efetiva do setor,
não tem sido muito utilizado pelas pequenas empresas. "O acesso aos
benefícios do regime é complicado, porque exige mudanças na forma de
executar os balanços financeiros das empresas para se adequar às
exigências da Receita Federal", disse. (VS)
Fonte: Notimp