Igor Gielow
Diretor da Sucursal de Brasilia
Diretor da Sucursal de Brasilia
Raridade em termo de prioridade pública, o
Prosub e o KC-390 são projetos bem distintos em sua concepção. Para a
Marinha, a obtenção de uma força submarina relevante sempre foi
prioridade. Em 1983, o governo assinou um acordo com a Alemanha,
trazendo ao país os populares modelos de propulsão diesel-elétrica da
série IKL-209/1.400.
Um barco veio pronto, e outros quatro
foram feitos sob licença no país. Mas o objeto do desejo sempre foi o
modelo nuclear, que tem autonomia teoricamente ilimitada e pode projetar
e operar em águas profundas.
A descoberta do petróleo no pré-sal deu
combustível para o projeto, e o acordo militar de 2009 com a França
incluiu um dos maiores negócios do gênero --quase R$ 20 bilhões em 25
anos.
Os franceses tinham o trunfo de
transferir tecnologia do submarino nuclear. Cobraram um pacote completo:
estaleiro, base e quatro unidades convencionais da classe Scorpène,
considerada inferior aos similares alemães ou russos.
A crítica sobre a necessidade de um
submarino nuclear é a de que ele não é adequado à defesa costeira, de
águas mais rasas. O reator e seus mecanismos são barulhentos, e silêncio
é vital no ramo. A Marinha argumenta que ele dará retaguarda e poder de
dissuasão nas águas profundas. Custo é um ponto: cada nuclear equivale a
quatro convencionais só para construir.
Já o KC-390 representa uma aposta
de risco moderado da FAB (Força Aérea Brasileira). Interessada em
substituir sua frota obsoleta de cargueiros C-130 Hércules, um
bem-sucedido projeto dos anos 1950, a Força encomendou um desenho
moderno à Embraer.
A empresa entregou uma adaptação de
seu modelo civil E-190, que foi rejeitada. Com a ajuda da FAB, um novo
avião foi desenhado. É a maior aeronave já projetada no Brasil, e tem
uma rede de fornecedores multinacional. Ele mira ao menos 20% de um
mercado de 700 Hércules e similares que devem ser desativados nos
próximos 25 anos no mundo. Pretende ser mais barato do que Hércules: US$
50 milhões contra US$ 65 milhões a US$ 80 milhões da versão mais
moderna, a J.
Tem capacidade maior de transporte:
23,6 toneladas, contra 19 toneladas. Com motores a jato, é mais
eficiente em voo, embora críticos digam que a previsão de operar em
pistas de terra na Amazônia seja otimista. Para eles, turboélices como o
Hércules não correm risco de "engolir sujeira" e pifar no pouso e
decolagem. A Embraer afirma que isso não vai ocorrer.
O governo investiu R$ 3 bilhões no
projeto. Para ver o dinheiro de volta, é preciso que a previsão da
Embraer de exportação se concretize: a empresa prevê pagar todo o
investimento em 20 anos por meio de royalties das vendas.
"O KC-390 será a principal força
motriz de crescimento da área de defesa da Embraer nos próximos anos e
uma plataforma de exportação de alto valor agregado para o Brasil", diz
Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa & Segurança. Por
ora há 60 pedidos informais de seis países pelo avião (28 da FAB). O
primeiro protótipo deve voar em 2014 e entrar em operação dois anos
depois.
Fonte: Folha de S.Paulo