Motivo de grande orgulho para o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), o dia 21 de fevereiro de 2012 marca os 53 anos da primeira inspeção em voo realizada no Brasil com tripulação e aeronave nacionais.
Para gerir o espaço aéreo brasileiro com segurança e eficácia, o DECEA precisa manter aferidos e operando seus equipamentos de auxílios à navegação aérea, aproximação e pouso.
Dispondo de dez aviões-laboratório - quatro jatos Hawker EU93A de alta performance e seis turbo-hélices Bandeirante (além de um turbo-hélice Bandeirante cargueiro) - o GEIV homologa, inspeciona em voo e mantém aferidos todos os auxílios instalados no Brasil.
A aeronave-laboratório do GEIV é um avião aparentemente comum, só que em seu interior há um laboratório eletrônico de alta precisão. Sua tripulação é composta por profissionais de alta qualificação, com curso específico e treinamento adequado ao exercício dessa atividade.
História
Era início da década de 50 quando o Ministério da Aeronáutica solicitou ao Governo dos Estados Unidos o fornecimento de equipamentos de Auxílio à Navegação Aérea, assistência técnica, instalação e treinamento de pessoal especializado para as necessárias manutenções.
Um ano depois, em 1955, o Governo Brasileiro assinava o contrato nº 512-37-029 com o Diretor da Missão de Operações dos EUA no Brasil, cujo assunto era “Auxílios à Navegação Aérea e Controle do Tráfego Aéreo”.
A atividade de inspeção em voo no Brasil tem sua origem na assinatura do Projeto de Controle do Tráfego Aéreo (CONTRAF), assinado entre a extinta Diretoria de Rotas Aéreas (DR) e a Federal Aviation Administration (FAA – Administração Federal de Aviação), à época denominada Civil Aviation Agency (CAA – Agência de Aviação Civil), cujos termos especificavam quais eram as responsabilidades da Missão Norte-Americana de Cooperação Econômica e Técnica.
Segundo o Contrato, mediante empréstimo, uma aeronave-laboratório, o Beechcraft de matrícula N-74, prestaria serviços ao Brasil nas missões de inspeção em voo dos primeiros auxílios à navegação aérea e à aproximação – VOR (VHF Omni Range – Ferramenta Omnidirecional em VHF) e ILS (Instrument Landing System – Sistema de Pouso por Instrumento) – a serem instalados.
A primeira Inspeção em Voo no Brasil aconteceu no dia 19 de dezembro de 1956, quando uma aeronave-laboratório avaliou o local do VOR de Caxias, no Rio de Janeiro – primeiro auxílio à navegação aérea homologado no País.
Dois anos depois, a Força Aérea Brasileira enviou dois oficiais brasileiros a Oklahoma (EUA) para realizarem o Curso de Piloto-Inspetor na Academia da CAA.
Estava constituída a primeira tripulação operacional de Inspeção em Voo do Brasil. Ainda em novembro de 1958, a FAB adquiriu a primeira aeronave-laboratório, de matrícula nacional (um DC-3 – EC-47 FAB), inaugurando as missões.
Em 1959, como parte do Acordo CONTRAF e objetivando formar uma tripulação completa para a execução desta nova atividade aeronáutica, iniciou-se a instrução da Operação de Console de Inspeção em Voo, ministrada por um técnico da CAA que veio especialmente ao Brasil para também assessorar nossos técnicos em eletrônica na montagem de um laboratório de aferição e calibragem.
Foi em 21 de fevereiro deste mesmo ano que se realizou a primeira Inspeção em Voo no Brasil com tripulação e aeronave brasileiras. A referida missão tinha como meta verificar a adequação do sítio de Itaipuaçu para instalação de um VOR. Foi registrado um total de 5 horas e 15 minutos de voo.
Diante das crescentes demandas do tráfego aéreo, a Diretoria de Rotas Aéreas criou a Seção de Registro e Controle do Voo, embora a atividade de Inspeção em Voo se restringisse a ser apenas uma de suas Subseções.
A década de 60 foi marcada pela crescente demanda da aviação e ao consequente aumento na implantação de auxílios à navegação. Tudo isso implicava na necessidade de uma quantidade cada vez maior de profissionais especializados e um melhor planejamento das missões de inspeção.
Na Diretoria de Rotas Aéreas foi criada a Seção de Registro e Controle de Voo e em 1º de dezembro de 1961, através do Decreto nº 268, foi criada a Seção de Operações (GAB-2), com a missão de coordenar e controlar as missões de Inspeção em Voo.
Neste mesmo ano foi instalado o Radar de Vigilância do Aeroporto de Congonhas (ASR3), em São Paulo. Este feito deu início ao Programa de Treinamento de Controladores de Voo naquela região.
Foi também no Aeroporto de Congonhas que, em janeiro de 1962, a Aeronáutica instalou o primeiro radar da América Latina para controlar aeronaves comerciais e militares. Meses depois, em abril, Porto Alegre (RS) recebia e instalava o seu primeiro ILS.
Seguindo a natural evolução das atividades, em 1970, o então Diretor-Geral de Rotas Aéreas, Brigadeiro-do-Ar José Maria Mendes Coutinho Marques enviou ao Ministro da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Márcio Melo, o Ofício de Proposta para uma nova estrutura das Atividades de Inspeção em Voo.
Uma grande modificação ocorreu em 1971, quando, em 1º de abril, a Diretoria de Rotas foi extinta. Suas atividades de Tráfego Aéreo, Navegação, Meteorologia, Eletrônica e Comunicações foram reagrupadas e passaram a ficar subordinadas diretamente ao Comando de Apoio Militar (COMAM).
No ano seguinte, em 17 de outubro, com a criação da Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Voo (DEPV), surgiu a atividade de Inspeção em Voo juntamente com a criação do Núcleo do Grupo Especial de Inspeção em Voo (NuGEIV).
Assim, o Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV) foi criado através do Decreto nº 71.261 e ativado, em 17 de abril de 1973, pela Portaria R-003/GM3.
Ao longo de sua existência o Grupo acompanhou a evolução da DEPV, passando sua subordinação ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), quando este veio a substituir a Diretoria.
A missão do Grupo é vital para a segurança do tráfego aéreo. Todos os auxílios devem estar funcionando com perfeição e somente as consoles bem calibradas podem garantir isto.
O GEIV está por todo o Brasil. Cada aeronave-laboratório são os olhos e ouvidos do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB).
Sendo uma referência na atividade, o GEIV também presta serviços de Inspeção em Voo em uma série de países da América do Sul, através de convênios firmados internacionalmente. Daí seu status de “exportável”.
Motivo de grande orgulho para o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), o dia 21 de fevereiro de 2012 marca os 53 anos da primeira inspeção em voo realizada no Brasil com tripulação e aeronave nacionais.
A tripulação, composta pelos Capitães-Aviadores José Laetano Távora e Murilo Corrêa Neto, pelo Suboficial Wilson Machado e pelo Sargento José Moraes Pereira, entrou para a História da Inspeção em Voo Brasileira; para a História do Brasil.
Em meio às celebrações, podemos acompanhar o desenvolvimento primoroso desta atividade e confraternizar com os profissionais que fazem dela não só motivo de alegria, como também uma fonte de inspiração e exemplo no cumprimento das suas missões.
* Parte do texto foi extraída do capítulo “Voando para inspecionar” do livro “A História do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro”, publicado pelo DECEA em 2011.
Fonte: DECEA