Acredita-se que ali há atividades relacionadas com um programa nuclear bélico
O Irã desafiou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a comunidade internacional ao negar acesso a uma instalação militar nas proximidades de Teerã, onde existe a suspeita de atividades relacionadas com um programa nuclear bélico. Uma missão especial de alta categoria da AIEA, liderada por seu inspetor-chefe, Herman Nackaerts, voltou nesta quarta-feira a Viena com as mãos vazias após dois dias de intensas negociações em Teerã.
"Tentamos chegar a um acordo sobre como seguir adiante para resolver assuntos pendentes, em particular discutimos as supostas dimensões militares do programa nuclear (iraniano)", disse o belga em seu retorno à capital austríaca, onde fica a sede da agência nuclear das Nações Unidas. "Afrontamos esta viagem com um espírito construtivo, mas infelizmente não chegamos a nenhum acordo", manifestou o inspetor-chefe do organismo à imprensa.
O Irã se nega a conceder acesso aos especialistas da AIEA à base militar de Parchin, nas proximidades de Teerã, onde os serviços de inteligência ocidentais suspeitam da realização de trabalhos relacionados com a construção de armas nucleares. Nackaerts afirmou nesta quarta-feira que informará em detalhes ao diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, sobre o que aconteceu nesta fracassada missão ao Irã, a segunda em menos de um mês.
Além disso, os resultados desta visita serão incluídos no próximo relatório técnico do organismo sobre a República Islâmica, que é esperado para os próximos dias e será analisado a partir de 5 de março pelo Conselho de Governadores da AIEA. Nackaerts esteve no Irã acompanhado por Rafael Grossi, chefe de gabinete de Amano; o francês Jacques Baute, especialista na construção de bombas atômicas, e uma das juristas da AIEA, a americana Laura Rockwood.
Em comunicado emitido nesta quarta-feira, Amano antecipou o fracasso da missão, ao classificar como 'decepcionante' que o Irã não tenha aceitado seu pedido de visitar Parchin. "Nós negociamos com espírito construtivo, mas não foi alcançado acordo algum", concluiu Amano na nota. Segundo acrescentou a porta-voz da AIEA, Gill Tudor, por enquanto não há acordo sobre mais conversas com o Irã.
Tensão - O fracasso da missão acontece em um momento de crescente tensão na disputa sobre o programa nuclear iraniano e as ameaças diretas e indiretas de Israel sobre um possível ataque aéreo contra as instalações atômicas do país. O Ocidente, com os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e Israel na liderança, teme que sob a justificativa de um suposto programa pacífico o Irã queira construir armas atômicas. Teerã rejeita estas alegações e diz que seus esforços atômicos só têm objetivos pacíficos, como a geração de energia elétrica e a elaboração de isótopos para combater o câncer.
O especialista americano Michael Adler disse que é "excepcional para a AIEA ser tão clara", o que demonstra "sua frustração e sua incapacidade de avançar na investigação". O pesquisador do Wilson Center de Washington (EUA) adverte que o fracasso desta missão impulsionará as preocupações de que o Irã não está cooperando com a comunidade internacional, o que se unirá à tensão já existente. Além disso, sua falta de cooperação contradiz a versão do Irã de que não tem nada a ocultar e quer cooperar com a AIEA, conclui Adler.
As principais instalações nucleares da República Islâmica estão fortemente protegidas ou foram construídas abaixo da terra para dificultar sua destruição em um ataque militar. Contra as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que já impôs quatro rodadas de sanções, o Irã segue com seu programa de enriquecimento de urânio. Esse material, que o Irã já enriquece até 20%, serve tanto como combustível nuclear como para fabricar bombas atômicas.