O momento da Aviação de Asas Rotativas é de reequipamento e ampliação da capacidade operacional, segundo o Brigadeiro do Ar José Alberto de Mattos, comandante da Segunda Força Aérea (II FAE), que, em entrevista ao NOTAER, falou sobre a atuação e os desafios para os esquadrões da Força Aérea. Leia a entrevista:
Brigadeiro do Ar José Alberto de Mattos - Compreender o contexto e a importância da Aviação de Asas Rotativas requer um mergulho na própria história das gerações que acreditaram que mudanças eram possíveis.Além da indiscutível capacidade de realizar as missões de busca e resgate, muito pouco nos restava no campo do emprego do poder aéreo. O paradoxo de poder cumprir qualquer tipo de missão era uma benção e ao mesmo tempo um mal. Nossa polivalência, que era tão aceita para as atividades de paz, não o era para as de guerra. Embalados pelos sonhos dos antigos Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque (EMRA), brigávamos por uma identidade própria que nos orientasse ao emprego em prol da FAB. Foi quando o Exército Brasileiro ativou sua própria frota de helicópteros e o que parecia ser uma perda de poder e de missão, transformou-se num grande incentivo. Devíamos conquistar novos horizontes e foi, através do mesmo SAR, agora com a roupagem do combate, o CSAR, que nossa longa caminhada recomeçou.
Nunca será demais às nossas mentes relembrar uma RAAR em Manaus quando uma das unidades operadoras apresentou o H-50 Esquilo armado a partir de um projeto bastante interessante. Naquele momento ouvimos, pela primeira vez e provocados por um dos comandantes de nossas unidades, o grito de guerra que ecoa até os dias de hoje ... "Aos rotores, o sabre". Em busca de nosso SABRE e convencidos da necessidade de agregar potencialidades aos vetores de Asas Rotativas que ingressariam em território hostil para a escolta no resgate e o ataque no combate, iniciamos os treinamento de combate aéreo entre helicópteros, que foi secundado pelo combate dissimilar, momento em que foi comprovado que o maior inimigo de um helicóptero seria outro e não uma aeronave de asa fixa, como se propagava à época.
Ilhas de excelência foram ativadas para que os conhecimentos recém adquiridos não se perdessem, mas sim pudessem ser transferidos para outras unidades e assim foi feito, umas unidades desenvolviam a capacidade de voar com óculos de visão noturna (NVG), outras, perfis de navegação entre obstáculos (NOE), técnicas de CSAR, reabastecimento e rearmamento em pontos remotos. Algumas passaram a ter papel também na defesa aérea de pontos sensíveis.
Todas estas ações e estudos aconteceram sempre em paralelo com nossa vocação de integrar, cada vez mais, o nosso país e cuidar do nosso povo, através da continuada luta nas vacinações amazônicas, da atuação nas grandes calamidades que afetam nosso país e alguns dos nossos vizinhos e na presença diária de nossas tripulações prontas para o SAR, salvando vidas em toda a imensidão deste país.
NOTAER - Quais são os principais investimentos da FAB na Aviação de Asas Rotativas e os reflexos disso, hoje, na área operacional?
Brigadeiro do Ar Mattos - Voávamos e ainda voamos em algumas de nossas bases aéreas, antigas aeronaves que não atendem a plenitude de nossa vocação. Mas o ponto de inflexão, já superado em termos conceituais, está acontecendo nestes tempos. Há alguns anos voamos os BlackHawk na Amazônia e, mais recentemente, eles também chegaram aos pampas gaúchos. Teremos, assim, duas robustas unidades operando H-60. Há pouco mais de um ano, recebemos o AH-2, plataforma responsável por significativa mudança em nossa capacidade de ataque com helicópteros e logo estaremos recebendo novos COUGAR, além daquele que hoje já opera no 1º/8º Grupo de Aviação, na Base Aérea de Belém, plenamente equipados para o CSAR e permitindo que todos os conhecimentos sejam praticados em novos e bem equipados vetores de combate.
Complementando este quadro, tivemos a concentração dos helicópteros Esquilo na instrução em Natal o que permitiu um maior volume de horas de treinamento dos novos integrantes de nossa aviação.
Enfim, o momento é de reequipamento e ampliação da capacidade operacional da Aviação de Asas Rotativas. Os novos helicópteros possibilitam à FAB um salto significativo, na medida em que tais plataformas possuem desempenho, armamentos, sensores e equipamentos que suprem plenamente as lacunas operacionais dos antigos vetores. Permitem ainda, maior segurança aos tripulantes no cumprimento das missões, em face de blindagens, sistemas modernos de navegação e redundância de equipamentos vitais.
Toda esta nova estrutura operacional, quando associada à capacidade, já praticada por diversas unidades aéreas, de voar noturno, atuará como fator multiplicador ao permitir o voo durante 24 horas.