Voz da Rússia: Professor
Niemeyer, como o senhor vê essa confirmação da denúncia de que os
Estados Unidos cogitaram intervir militarmente no Brasil para derrubar o
presidente João Goulart?
José Niemeyer:
Olha, essa questão da ação militar norte-americana durante o governo
João Goulart é algo que muita gente discute. Inclusive, pessoas aqui do
Rio de Janeiro gostam de comentar que os navios estavam aqui na costa,
alguns navios de guerra dos Estados Unidos. Agora, eu acho que os navios
na costa foram muito mais uma demonstração de força e de tentativa de
neutralizar alguma agenda mais radical de João Goulart. Eu
particularmente, por mais que eu respeite muito o jornalista Gaspari
[responsável por divulgar a gravação de Jonh F. Kennedy, na qual o
presidente americano cogita intervir militarmente no Brasil], eu não
acredito numa invasão do Brasil pelos Estados Unidos. Primeiro porque é
um país muito difícil de ser invadido, do ponto de vista geoestratégico.
Para invadir um país, é preciso tomá-lo. É muito difícil. Não é
simples. Só se houvesse um ataque maciço da Força Aérea norte-americana.
Mas acho isso muito difícil, muito complicado administrar um ataque
naquela época das fronteiras ideológicas porque a União Soviética se
posicionaria também. Eu acredito numa certa postura dissuasória por
parte do governo dos EUA com relação a uma agenda de reformas mais
radicais do governo brasileiro.
Agora,
se isso foi mencionado na Casa Branca, se foi gravado, como parece que o
Gaspari coloca, sabe-se que, numa reunião de gabinete, as coisas são
discutidas num plano muitas vezes fantasioso, ou baseadas em um cenário
prospectivo. Líderes quando falam são humanos falando. Ainda mais dentro
de um gabinete fechado, num momento de muita apreensão durante a Guerra
Fria.
Mas
isso tudo também mostra outra coisa. Mostra como houve um apoio
político inconteste do governo americano para que ocorresse o Golpe de
1964. Disso eu não tenho dúvida. Eu acho que o material é importante
para mostrar isso, as influências na Operação Condor, influências em
relação aos civis que apoiaram a ditadura na hora de um processo
criminoso de tortura e perseguição, o auxílio da CIA nos processos de
investigação e nos processos organizados nos porões da ditadura...
Agora, uma ação militar norte-americana no Brasil acho muito forte.
VR: Historicamente,
nós temos que recuar alguns poucos anos e lembrar que tudo começa com a
revolução em Cuba em 1959. E, a partir daí, começa um clima de
apreensão nos EUA de que o movimento em Cuba pudesse se espalhar por
outros países da América Central e do Sul.
JN:
É o período das fronteiras ideológicas. Havia esse receio. Muita gente
acha que, em 1964, a posição da classe média principalmente paulista e
carioca foi tomada com receio de que houvesse um transbordamento do
conflito ideológico presente em alguns países da América Central e do
Sul, contaminando o Brasil. Eu ainda preciso pensar um pouco mais sobre
isso. Porque o Brasil não tem na sua matriz fundadora, como civilização,
como sociedade, meios que facilitassem a instauração do comunismo aqui.
Isso não tem muito a ver com a nossa formação, na minha opinião. É um
país muito grande, de muitas diferenças regionais... Então, para criar
um movimento comunista de base, que conseguisse ter o apoio dos muitos
grupos que formam a sociedade brasileira, acho que seria difícil. Mas
havia esse receio por parte da classe média e dos militares, setores
mais conservadores, desse transbordamento militar dos conflitos. Aí,
pode ser que na Casa Branca também houvesse esse receio.
VR: O
jornalista Elio Gaspari situa essa reunião do presidente Kennedy com o
embaixador Lincoln Gordon em 1963. Porém, biógrafos de Gordon dizem que,
em julho de 1962, ele já havia cogitado intervir pelo menos nas
eleições do Brasil para impedir que João Goulart fosse eleito. Se bem
que o João Goulart foi o sucessor natural de Jânio Quadros.
JN:
Eu também acho difícil uma intervenção no processo eleitoral no Brasil.
O que eu acho é que a CIA podia ter feito alguns movimentos de
contra-inteligência em relação a alguns candidatos a presidente,
incluindo o João Goulart. Mas não uma intervenção no processo eleitoral.
Eu não vejo os Estados Unidos, com relação a um país do porte
estratégico do Brasil, tendo essa postura tão radical. Pode ser que eles
tenham falado sobre isso em conversa de gabinete. Mas em conversa de
gabinete, como eu acabei de dizer aqui, vale tudo. São cenários
prospectivos. O Pentágono (Departamento de Defesa dos EUA) raciocina
muito assim. O planejamento é para cenários de A a Z. Inclusive, uma das
hipóteses hoje do Pentágono, desde a Guerra Fria, é a de uma guerra
interplanetária. Se até nesse nível de ameaça eles estão pensando, eles
poderiam pensar, sim, como cenário alternativo, numa invasão militar no
Brasil.
VR: Nós
também devemos lembrar, professor, que, nos anos 1960, os Estados
Unidos haviam idealizado a Aliança para o Progresso, cujo objetivo
declarado era contribuir para o desenvolvimento dos países. E o objetivo
encoberto era impedir que houvesse o que o senhor chamou ainda há pouco
de contaminação ideológica.
JN:
Exatamente. Com isso eles até estavam preocupados, mas tinham outros
elementos para promover essa não infecção ideológica, via serviço
secreto, com apoio dos grupos da classe média, com apoio principalmente
do empresariado paulista e carioca (que apoiaram 64), aí eles
conseguiam. O CCC, o Comando de Caça aos Comunistas, muitos dizem,
recebia também recursos de multinacionais. Porque essas empresas eram
incentivadas a vir para o Brasil. Para isso, tinham que barrar a
valorização do salário mínimo. Então, havia todo um arrocho salarial com
relação ao sindicato e ao operariado para poder remunerar melhor o
capital internacional. Isso eles fizeram. Havia lobby pra isso. Mas uma
ação militar é algo muito longe dessa realidade.
VR: A
impressão do professor José Niemeyer é a de que há um grande exagero em
torno dessas teorias. Se elas chegaram a ser cogitadas, ficaram apenas
no plano das hipóteses.
JN: Ficaram como hipóteses de cenários prospectivos, mas num campo pouco realista.
Fonte: Voz da Rússia
Patético ! Até o Consul norte americano em seu Livro pede desculpas ao Brasil e seu Povo pelas ações que aconteceram de forma muito rápida,.. e num clima de guerra mundial(guerra fria)...problemas com Cuba e os russos...Final da história...O Brasil foi mais uma democracia destruida pelos EEUU por Insegurança de sua Segurança. A maldição do general Custer ficou como um espírito imundo no corpo da Nação norte americana. Qualquer País que se levantar como Potencia regional...É uma ameaça! Vem as corrupções políticas, conspirações, assassinatos, uma revolução, e em último caso : Invasão(4ª Frota). Tudo escrito em documentos as ações...Exatamente nos padrões de Obama que recentemente (não se desculpando)por escutar e conspirar contra todo MUNDO, incluindo sua própria Defesa, ONU, OTAN,... O Gigante era uma ameaça naquele tempo.HOJE não tem mais jeito. Apesar dos impedimentos , privatizações, corrupções,...Entramos no século XXI com um NOVO Visual...O Brasil em menos de 1 década se tornou uma super Potencia econômica de verdade.
ResponderExcluirA Síndrome de socialista-viralata continua até hoje pelo jeito...pressões políticas sempre existiram e existirão para manter o poder geoestratégico, mas invasão territorial, como o a URSS fez com a Chechênia e outros; como a antiga Yugoslávia que rachou em vários países, com a literal invasão destes territórios, claro que não ocorreria no Brasil, como ocupar uma área gigante desta, se nem no Vietnam e Cambodja conseguiram...O máximo seria o preço a pagar de uma expressiva destruição pelo seu grane arsenal, mas realmente não interessaria aos EUA isto. Falar nisto, aquele consul, que fez escreveu aquele livro, naquele país, contando aquelas histórias é que é patético...Entramos no século XXI como todas as grands nações entraram em diversas fazes da história...tentando colocar um pouco d esol em sua alma...
Excluir