Após 29 anos voando o T-27 Tucano, a Fumaça inicia a transição para o voo em uma nova aeronave nacional, a exemplo do que aconteceu nos anos 80
A Esquadrilha da Fumaça tem novidade para 2013. Daqui a um ano, no segundo semestre, vão começar as apresentações com o caça A-29 Super Tucano. Os novos aviões, fabricados pela Embraer, têm mais que o dobro de potência dos T-27 Tucano que hoje equipam o Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), nome oficial da Esquadrilha. As apresentações vão mudar, inclusive com a volta da manobra conhecida como “Lancevack”, quando o avião faz uma série de "cambalhotas" rápidas pra frente.
A entrega das duas primeiras unidades
do Super Tucano ocorreu nesta segunda-feira (1/10), na Academia da Força
Aérea (AFA), sede do EDA, em Pirassununga, interior de São Paulo. "É
com um misto de júbilo e saudosismo que testemunhamos o T-27 Tucano
passar a liderança do voo para o A-29 Super Tucano. Pousa o ágil
bailarino e decola o destro guerreiro. Essa mudança é um marco na
história", afirmou o Major-Brigadeiro do Ar José Magno Resende de
Araújo, Chefe do Gabinente do Comandante da Aeronáutica, durante
a cerimônia de entrega. Os demais aviões devem chegar em 2013, ano
previsto para o início das apresentações com a nova aeronave.
Entre as principais diferenças entre as
aeronaves está a velocidade. Enquanto o Tucano atinge 448 km/h, o Super
Tucano vai até 590 km/h. "Existe uma considerável margem de manobra
entre as velocidades recomendadas pelo fabricante e aquela na qual a
aeronave poderá iniciar uma sequência acrobática, com uma significativa
reserva de energia", analisa o Comandante da Esquadrilha,
Tenente-Coronel-Aviador César Esteves. Traduzindo: as manobras vão ser
mais velozes e poderão acontecer com um intervalo ainda menor, com mais
intensidade.
O EDA vai deixar de voar um treinador,
utilizado para instrução de futuros aviadores no Brasil, para adotar um
caça, o mesmo que faz a vigilância das fronteiras do país.
O Super Tucano voa pela Força Aérea
Brasileira desde 2005 com a missão de formar os futuros pilotos de
combate, bem como para missões de ataque e de interceptação de aeronaves
de baixo desempenho. Com aviões desse tipo a FAB já destruiu pistas
clandestinas na região amazônica e forçou aeronaves de narcotraficantes a
pousarem após tiros de aviso. Além do Brasil, o modelo já foi exportado
para oito países e participa de uma concorrência para equipar a USAF, a
Força Aérea dos Estados Unidos.
Para o Coronel Esteves, além de
substituir os Tucanos que já completaram 29 anos de uso, essa chegada é
um marco para a própria indústria aeronáutica brasileira. "O EDA
equipado com o A-29 irá incrementar a missão de fortalecer a imagem da
indústria aeronáutica nacional, voando uma aeronave ainda em produção
pela Embraer e com um vasto mercado a ser explorado", explica.
Anualmente, a Fumaça participa de
apresentações em outros países da Europa e América do Norte, Central e
Sul. Só em 2012 foram visitadas Argentina, Bolívia e Chile.
No esquadrão, os A-29 vão receber um
esquema de pintura especial e podem passar ainda por modificações para
reduzir o peso, como a retirada dos canhões, cofres de munição e
suportes para armamentos. Mas será mantido o conjunto de equipamentos
eletrônicos que tornam o voo no Super Tucano mais seguro e confortável,
como as telas multifunção e os sistemas de navegação e comunicação
atualizados.
A turbina PT6A-68C, com 1.600 shp de
potência, tem ainda um controle digital que dá maior segurança para o
tipo de voo da do EDA, quando os pilotos aumentam e reduzem a força do
motor muitas vezes e com grande velocidade. Essas inovações frente aos
antigos T-27 vão facilitar também os traslados sobre oceanos e regiões
como a Amazônia e a Cordilheira dos Andes, cenários que não são
estranhos para a Esquadrilha da Fumaça.
Implantação
Em 2013, o EDA não irá fazer
apresentações entre janeiro e agosto, período que será dedicada à
formação de pilotos e mecânicos. Também serão recebidas as
demais aeronaves. Nessa época, a Fumaça terá a presença de militares de
unidades aéreas que já operam o Super Tucano. O objetivo é que, a partir
de 2014, o EDA possa realizar toda a formação do seu efetivo na
pilotagem e manutenção do A-29.
Os preparativos para o recebimento dos
Super Tucanos, no entanto, já começaram no início do ano passado. Seis
pilotos e 12 mecânicos do EDA foram até Natal (RN), onde receberam
instrução no caça no Esquadrão Joker (2º/5º GAV), unidade da FAB
responsável pela formação de pilotos de combate.
Com um instrutor na cabine, os aviadores
da Esquadrilha aprenderam a voar no Super Tucano para em seguida testar
as manobras das apresentações. "O avião adaptou-se bem a nossa missão.
Porém, com muito treinamento, a Fumaça vai colocar estas acrobacias em
sequência e a baixa altura", explica o Major-Aviador Alexandre Ribeiro
(veja entrevista abaixo).
Quatro aviões são do modelo A-29B, para
dois pilotos, e já servirão para a readaptação dos aviadores que
passaram pelo treinamento em Natal. Os outros oito A-29 serão da versão
A, para um piloto. Outra novidade é que no futuro a Esquadrilha da
Fumaça deverá receber um avião de transporte para voos de apoio, como o
transporte de mecânicos e suprimentos.
Com 60 anos, o Esquadrão de Demonstração
Aérea já voou aviões T-6, T-24 e T-25, além dos T-27 Tucanos recebidos
em 1983. Em 2002, após uma parada de dois anos para revisão das
aeronaves, a Esquadrilha substituiu o antigo esquema de cores em
vermelho e branco por um novo que utiliza as cores da bandeira do
Brasil. A chegada dos A-29 também coincide com o fim da vida útil dos
Tucanos, após aproximadamente de 2.300 demonstrações com esse tipo de
aeronave.
Gráfico Comparativo
T-27 Tucano X A-29 Super Tucano
Fabricante: Embraer / Embraer
Emprego: Treinamento / Caça, ataque e treinamento
Motor: Turboélice Pratt & Whitney PT6A-25C de 750 Shp / 1 turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A-68C de 1.600 shp de potência
Envergadura: 11,14 m / 11,14 m
Comprimento: 9,86 m / 11,30 m
Altura: 3,40 m / 3,97 m
Peso vazio: 1.810 Kg / 3.200 kg
Peso máximo: 3.175 Kg / 5.400 kg
Velocidade máxima: 457 Km/h / 590 km/h
Altitude máxima: 9.936 m / 10.665 m
Emprego: Treinamento / Caça, ataque e treinamento
Motor: Turboélice Pratt & Whitney PT6A-25C de 750 Shp / 1 turboélice Pratt & Whitney Canada PT6A-68C de 1.600 shp de potência
Envergadura: 11,14 m / 11,14 m
Comprimento: 9,86 m / 11,30 m
Altura: 3,40 m / 3,97 m
Peso vazio: 1.810 Kg / 3.200 kg
Peso máximo: 3.175 Kg / 5.400 kg
Velocidade máxima: 457 Km/h / 590 km/h
Altitude máxima: 9.936 m / 10.665 m
ENTREVISTA - Manobras foram testadas com sucesso em Natal, no ano passado
No passado, pilotos da Esquadrilha da
Fumaça testaram com êxito todas as manobras acrobáticas na aeronave A-29
Super Tucano. O Major-Aviador Alexandre Ribeiro, oficial da operações
da unidade, participou dessa preparação. Leia entrevista:
Agência Força Aérea - Dá para comparar o Tucano com o Super Tucano?
Major-Aviador Alexandre Ribeiro - O T-27 é
mais leve que o A-29 e por isso é mais "dócil" para pilotar. Porém, o
A-29 apresenta uma grande superioridade de potência, além da aviônica de
ponta. Estas duas características ajudarão sobremaneira a pilotagem do
Super Tucano na "Esquadrilha da Fumaça".
Agência Força Aérea - A apresentação vai ser a mesma?
Major-Aviador Alexandre - Durante a
avaliação do A-29 em Natal foram realizadas com sucesso todas as
manobras do atual "display" de demonstração do EDA. Sobre as novas
manobras já posso afirmar que o Super Tucano é capaz de proporcionar a
volta do nosso famoso Lancevak.
Agência Força Aérea - E a segurança?
Major-Aviador Alexandre - Sempre
procuramos mais segurança e este avião possuí um moderno sistema de
avisos que facilita a ação do piloto durante o gerenciamento de alguma
pane. Outro item que muito nos agradou foi o "horizonte artificial"
apresentado no display na altura de visão do piloto (“head up display”).
Para as acrobacias há a necessidade de se visualizar o horizonte para
"desenharmos o céu", mas nem sempre o céu esta azul ou o horizonte é de
fácil definição como num dia nublado num horizonte montanhoso. No A-29 o
"horizonte" esta lá, mesmo nestes dias e lugares!
Agência Força Aérea - O que significa esse momento de transição?
Major-Aviador Alexandre - Vida longa ao EDA.
Fonte: Agência Força Aérea