18/04/2012

O dia mais longo dos dias na Itália



Esta é uma história de heróis. Em abril de 1945, as tropas aliadas preparavam-se para uma grande ofensiva contra as forças alemãs. A todo custo,  seria  preciso  estabelecer  uma cabeça de ponte na região do Vale do Pó e impedir que exército nazista, em retirada, formasse uma nova linha de resistência e adiasse o final do conflito. Tal esforço exigiria sacrifício de todas as nações. Estava para acontecer o “Dia
D”  da Aviação  Brasileira  na  Segunda Guerra Mundial.

Dia 22 de abril de 1945. O céu amanheceu encoberto na base brasileira em Pisa, na Itália. A aparente calmaria na pista de decolagem escondia o intenso movimento do 1° Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) nos últimos dias. A unidade vinha cumprindo de quatro a seis missões por dia, o dobro, às vezes até  o  triplo  da  quantidade  de  saídas de antes da ofensiva de primavera que agora se desenhava.

Participar  dessa  ofensiva  exigiria um  esforço  acima  da  média  para  os pilotos e especialistas da unidade. Os militares  brasileiros  haviam  acabado de  tomar  uma  das  mais  importantes decisões de toda a guerra. Preocupado com o aumento das saídas e o número de  pilotos  brasileiros,  o  Comando  do 350th  Fighter  Group  USAF  (United States Air Force) propôs acabar com a unidade e aproveitar sua estrutura para pilotos  americanos  que  entrariam  em  combate. Liderados pelo então Tenente-Coronel  Nero  Moura,  Comandante do  1º  Grupo  de  Caça,  os  brasileiros decidiram continuar lutando como uma unidade independente.


Dezenove pilotos acordaram escalados para as 11 missões do dia 22 de abril, prontos para quebrar o recorde de saídas diárias de toda a campanha na Itália. Para isso, voariam duas, até três vezes, por  sucessivos dias, até  o  final da  ofensiva. A  unidade  tinha  então  a metade  do  número  de  aviadores  que desembarcaram  em  Livorno,  um  ano antes, resultado de baixas operacionais.

Passava  das  8h,  quando  o  ronco do  primeiro  P-47  ecoou  pela  pista  de decolagem de Pisa. Às 8h30, partiram o capitão Horácio e os Tenentes Lara, Lima Mendes e Canário. Cinco minutos mais  tarde,  saíram  o  Capitão  Pessoa Ramos  e  os  tenentes  Rocha,  Perdigão e Paulo Costa. Às 8h40, decolaram os Tenentes Dornelles  e Eustórgio, mais os aspirantes Poucinha e Pereyron.

Em  terra,  o  ritmo  de  preparação continuava  acelerado  para  dar  conta das outras missões do dia. Havia um clima  de  preocupação. A  experiência em combate indicava pelo menos três aeronaves abatidas por mês, dentro da rotina  normal  de  saídas.  O  dia  22  de abril escapava totalmente desse perfil.




Às 9h45, decolaram o Tenente-Coronel Nero Moura, o Capitão Buyers, da USAF, e os Tenentes Neiva e Goulart. Uma hora depois, começaram a retornar as três primeiras esquadrilhas, sem nenhuma baixa. Abrindo a segunda leva de ataques, partiram, às 10h55, o tenente Rui, Meira, Marcos Coelho de Magalhães e o Aspirante Tormin. Na seqüência (11h40), decolaram, pela segunda vez no dia e depois de menos de uma hora de descanso,  os  pilotos  Horácio,  Lara,  Lima Mendes e Canário. Todos voltaram.

Na sétima missão do dia, às 12h40, saíram os Tenentes Dornelles, Eustórgio e o Aspirante Poucinha, todos voando pela segunda vez, mais o Tenente Torres, que chegaria ao final da guerra como o piloto mais voado. Em seguida (13h45), foram para o combate o Capitão Pessoa Ramos e os Tenentes Rocha, Perdigão e Paulo Costa, apenas três horas depois de terem retornado de outra missão.

Ainda restavam três missões. Até o  meio da tarde, o 1º Grupo de Caça havia cumprindo à risca o plano aliado, sem nenhuma  baixa.  Em  todas  as  saídas, os pilotos jogavam bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar alvos de oportunidade, como colunas de tanques e transportes de suprimentos.



Às 14h45, o comandante do 1º Grupo de Caça, Tenente-Coronel Nero Moura, acompanhado  dos  Tenentes  Neiva  e Goulart, mais o Aspirante Pereyron, decolaram. A penúltima missão começou minutos antes das 16h. Partiram (pela terceira vez) Horácio, Lima Mendes e Lara, mais o capitão Buyers, que cumpria sua segunda missão. Filho de pais americanos,  mas  nascido  no  Brasil, Buyers  juntou-se  ao  grupo  ainda  no Brasil, como oficial de ligação.A última missão do dia, a décima primeira em pouco mais de sete horas, foi a mais dramática. Às 15h45, decolaram os Tenentes Meira, Tormin, Keller e Coelho.

Dos quatro, apenas três retornaram. Ao mergulhar sobre um alvo, seguindo seu líder, Coelho foi atingido e teve que saltar de paraquedas, ficando desaparecido até o final da guerra. No  dia  seguinte,  em  23  de  abril, finalmente,  os  aliados  estabeleceram uma  cabeça  de  ponte  no  Vale  do  Pó. Engana-se  quem  pensa  que  o  esforço acabou ali. Por mais três dias, depois de 22 de abril, os pilotos brasileiros voaram dez missões diárias. Nesse esforço, o Tenente Dornelles, com 89 missões, morreu em combate, faltando poucos dias para o final da guerra.


Fonte: Revista Aéreo Visão

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