Comandante diz que Teerã atacará se sentir risco a seus interesses; país impõe condições a contratos de petróleo e limita ação de agência nuclear da ONU no país.
Foto de setembro de 2007 mostra arma antiaérea posicionada na instalação de enriquecimento de urânio de Natanz, no Irã |
Enquanto aumenta a tensão em sua disputa com o Ocidente, o Irã alertou nesta terça-feira que lançaria ações preventivas contra seus inimigos se sentir que há perigo aos seus interesses nacionais. "Nossa estratégia agora é que, se sentirmos que nossos inimigos querem colocar em perigo os interesses nacionais do Irã (...), agiremos sem esperar suas ações", disse o comandante-adjunto Mohammad Hejazi, citado pela agência semioficial Fars.
Divisões na liderança do Irã dificultam a interpretação das intenções do governo, mas a declaração mostrou um novo nível de agressividade na retórica do Irã. A advertência feita pelo vice-chefe das Forças Armadas surgiu enquanto Teerã parecia pôr limites a uma visita de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), anunciando que eles não poderiam visitar as instalações nucleares do país, apesar de informações prévias de que os membros da agência nuclear da ONU procuraram permissão para inspecionar um complexo militar fora da capital.
A crescente tensão sobre o programa nuclear do Irã alimentou as especulações de que Israel estuda atacar as instalações nucleares do país persa. De acordo com especialistas, um eventual ataque israelense seria lançado provavelmente pelo sul do país, onde o Irã disse na segunda-feira que faria por quatro dias exercícios militares chamados de "Sarollah" ("vingança de Deus") para aumentar a proteção de suas instalações nucleares.
Os EUA e o Estado judeu não descartam uma ação militar para destruir o programa nuclear iraniano. Na semana passada, uma fonte graduada de inteligência dos EUA disse que as agências americanas de espionagem acreditam que o Irã reagirá se for atacado, mas dificilmente iniciará um conflito.
Israel e parte da comunidade internacional suspeitam que o programa atômico do país persa tem o objetivo de fabricar armas nucleares. Teerã nega a acusação, afirmando ter apenas objetivos civis, como a produção de energia, e rejeita a reivindicação internacional de que suspenda seu enriquecimento de urânio. Mas um relatório da AIEA divulgado em novembro trouxe a informação de que o país realizou algumas pesquisas sobre o desenvolvimento de armas.
Em um sinal do aumento da tensão entre Israel e o Irã, Teerã anunciou na semana passada avanços em seu programa nuclear e passou com dois navios de guerra pelo Mediterrâneo após atravessar o Canal de Suez pela segunda vez desde 1979, enquanto Israel culpou o país por ataques recentes contra alvos israelenses na Geórgia, na Índia e por uma conspiração terrorista na Tailândia. Teerã nega as acusações.
No final do ano, o Irã fez exercícios militares nas proximidades do Estreito de Hormuz, na entrada do Golfo Pérsico, lançando vários mísseis. O Irã ameaçou bloquear a passagem, por onde passam 20% das exportações de petróleo do mundo, em retaliação contra as sanções ocidentais ao programa nuclear iraniano.
Condições para fornecimento de petróleo
Um dia após ameaçar estender o corte de exportações de petróleo a outros países europeus, o Irã impôs nesta terça-feira condições para vendas futuras do produto para nações da União Europeia (UE) após ter suspendido as transações com o Reino Unido e a França no domingo, os dois países do bloco europeu que mais impulsionaram a adoção de sanções contra o Irã.
O porta-voz Ramin Mehmanparast disse que Teerã busca garantias de pagamento, contratos de longo prazo e uma proibição a cancelamentos unilaterais de contratos por compradores. Ele disse que tudo isso terá de ser considerado se a Europa quiser continuar as relações comerciais e de petróleo. Segundo Mehmanparast, os termos foram detalhados em um encontro com embaixadores de seis países europeus.
Na segunda-feira, o Irã indicou que Alemanha, Espanha, Itália, Grécia, Portugal e Holanda seriam alvos potenciais do corte de petróleo em represália pelo embargo imposto em janeiro pela UE ao petróleo iraniano a partir de 1º de julho, que foi mais um reforço às sanções ocidentais contra o controverso programa nuclear da República Islâmica.
A porta-voz da Comissão Europeia, Marlene Holzner, afirmou na segunda-feira que a Bélgica, a República Checa e a Holanda pararam de comprar petróleo iraniano, enquanto a Grécia, a Espanha e a Itália estão diminuindo suas aquisições. A França subestimou o impacto da ação do Irã, dizendo que as companhias petrolíferas francesas já pararam de adquirir o produto iraniano. Segundo Marlene, Reino Unido, Áustria e Portugal pararam de comprar petróleo iraniano já há algum tempo.
Fonte: Último Segundo